O simbólico costuma levar o mineiro Sergio Porto a caminhos que podem ganhar forma de alegoria, como é o caso de A Arca das Sacristias de Minas, cuja narrativa é plena de parábolas.
Durante a pandemia, quando se recolheu para se proteger  de um vírus devastador, Sergio Porto deixou fluir o processo criativo na produção deste romance, dando voz ao discurso literário pelo qual sempre teve inclinação.
Os romances A volta do Capitão Flozinha (1991) e Café Concerto (1992) já sinalizavam sua simpatia pela literatura. Mas A Arca das Sacristias de Minas se reveste de uma singularidade:
a obra não se limita ao percurso inicialmente planejado. O destino da Arca pode encontrar novos rumos até mesmo em uma boa conversa, como afirma o autor: “Foi a partir de nossa conversa [uma entrevista] que a Arca resolveu tomar novo rumo”.
E, assim, passam a integrar o percurso as belas praias de Japaratinga e Barra de São Miguel, em Alagoas; Morro de São Paulo e Porto Seguro, na Bahia; Tambaú e Ponta do Seixas, em João Pessoa. Afetuoso como é, Sergio Porto não excluiria da Arca qualquer viajante motivado a ir até o CineBaru, em Sagarana, no noroeste de Minas, destino final da travessia. Quem sabe, para viver novas e lúdicas aventuras humanas nas telas do cinema, trocando o medo da morte na pandemia por novas, belas e generosas criações.
Ana Lúcia Medeiros
Jornalista e pesquisadora,
doutora em Comunicação
(UnB/Université de Rennes 1 – França)